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sábado, 23 de outubro de 2010

REMINISCÊNCIAS

Antes que a vela do Tempo se apague; antes que a inexorável velhice corroa os meus já combalidos neurônios da memória, deixei-me relembrar coisas queridas que marcaram a minha insignificante vida neste Plano Terrestre.
1.938...
A Arthur Machado, conhecida como a. Rua do Comércio de Uberaba (MG).
Era o local onde a mocidade se encontrava nos “footings” tão em voga naqueles tempos.
Eu tinha terminado o curso ginasial e, como era ante véspera da segunda Grande Guerra, ainda fazia a instrução militar no Tiro de Guerra nº 158. Mas, à noite, quando não tinha ronda, aos domingos, lá ia eu para a Rua do Comércio para ver o “footing”... As moças passando... Passando...
De repente, vi uma menina-moça linda. Vestido vermelho. Olhos grandes. Cabelos enrolados no alto da cabeça. Tez louçã... Linda, linda mesmo!
Meu coração, ainda sem dono, disparou...
Ela olhou para mim? Seria mesmo para mim?!
Esperei o retorno do “footing” que ia da Praça Rui Barbosa até a Avenida Leopoldino de Oliveira.
Ela passou de novo e, de novo, me olhou...
Ah! Meu Deus! Era mesmo eu o felizardo daqueles olhares tão doces...
Outros domingos... Novos olhares...
Ai, num domingo, quando terminava a passeata das moças, tomei coragem e abordei a tal mocinha: - “Posso acompanhá-la ?” Era a forma usual daqueles tempos para a aproximação.
Começou o namoro... Cinemas no “Royal”... Despedidas na esquina da Rua Padre Zeferino com a Gonçalves Dias, perto da casa dela.
Veio o Carnaval. Encontramo-nos. Depois de alguma conversa, ela se despediu dizendo que ia para casa. Fui embora...
Depois de alguns dias, descobri que ela me enganara, ao invés de ir para casa, foi para o baile de carnaval na União dos Empregados do Comércio... O Irineu, um meu conhecido que trabalhava no Correio, contou-me que dançou com ela, mas que o preferido era o Francisco Sabino, com quem ela mais dançou. Quase morri de ciúmes e de raiva, pela enganação de que tinha sido vítima. Tinha feito papel de bobo, acreditando na estória de “ir para casa”...
Ela procurou, por muito tempo, manter a mentira... Mas, eu tinha certeza dos fatos... Até que um dia, já de namoro firme, ela me contou a verdade: - tinha ido mesmo ao tal baile...
No dia 17 de dezembro de 1939, já freqüentando sua casa, pedi-a em casamento. Ficamos noivos.
A “Pindaíba”... Quantas recordações...
O concurso para o Banco do Brasil.
O nosso casamento que, por discriminação religiosa (ela era espírita e eu católico), não foi realizado no Altar Mor da Catedral... Foi feito no Altar de São José, que passou a ser o nosso Protetor da nossa vida de casados...
O primeiro filho... Cinco quilos e trezentos gramas... Menino lindo e forte...
A mudança para Governador Valadares... Tristes lembranças... Quantas dificuldades...
Os outros filhos...
A minha carreira no Banco do Brasil... Os progressos... Depois a queda...
Doenças...
São Paulo... Outras dificuldades... Outras vitórias...
Ribeirão Preto...
São Carlos...
Dificuldades...
x.x.x.x.x
Mas, agora, aos 61 anos de casados, ainda continuo a lembrar-me daquela menina-moça de vestido vermelho, e continuo a amá-la como sempre.
Só espero que, no próximo Carnaval, ela não me engane de novo...
Será?!
Reminiscências... Reminiscências...
Como é bom a gente poder lembrar de coisas mínimas que constituíram as nossas vidas... Como é bom!

Urbano França Canôas

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