Nos seus 11 anos, Pedro não conseguia entender aquelas conversas de seu pai, que era dentista, com os seus pacientes. Eles falavam numa linguagem estranha para o menino, comentando nomes desconhecidos: - João Pessoa, Getúlio Vargas, Olegário Maciel, Antonio Carlos, Washington Luiz, Júlio Prestes, Armando Sales, Juarez Távora, Mena Barreto e tantos outros que ele não sabia quem eram, pois não freqüentavam sua casa.
De vez em quando, ele via os irmãos de sua mãe, os seus tios fazendeiros, coronéis da política, como ficou sabendo mais tarde. Eles vinham prá conversar com a irmã, a dona Euletéria e, às vezes, para tratarem dos dentes com o cunhado, o seu Plínio. Então, o assunto esquentava, pois nem sempre o seu Plínio concordava com as teses políticas. Mas, não havia brigas: - era só uma discussãozinha besta...
O menino, brincando com uma piorra quebrada, ficava ali, feito bobo, sem entender nada... O pior de tudo era quando o seu irmãozinho caçula queria também brincar, pois os dois gostavam da mesma piorra... Gritos pra cá, choros pra lá, empurrões, tapas, etc. que dona Euletéria, com muita sapiência, acalmava com umas boas chineladas...
Pronto. Mas, lá dentro do gabinete dentário do seu Plínio, a prosa continuava quente: - Olha aqui, Plínio, falava um dos tios. A eleição vem aí e nós precisamos de apoiar a Aliança Liberal. O Antonio Carlos é amigo da gente e ele quer que o Olegário Maciel seja eleito Presidente de Minas...
- É... Tornava o seu Plínio. Mas, o povo não está satisfeito... A crise tá forte e ninguém quer votar...
- Nós precisamos do Olegário Maciel na Presidência, porque ele prometeu nos dar uma mão nos nossos negócios... Você sabe que nós gastamos muito dinheiro e as nossas fazendas estão garantindo os empréstimos que fizemos no Banco Hipotecário... O Osvaldo Borsato, o gerente local, nos falou que o Banco já deu ordem para executar a nossa hipoteca.
- Mas, retrucou o seu Plínio, como controlar a vontade do povo?
- Ora, Plínio, a gente dá um jeito nessas pequenas coisas. Sentenciou o tio Sinhô.
Plínio, apesar de não concordar com o cunhado, preferiu ficar calado.
Passados alguns dias, Pedro viu chegar à sua casa um livro grande, trazido por um empregado da fazenda do Coronel Sinhô.
Pedro não entendeu o que o empregado falou com seu pai. Mas, desconfiou que era alguma coisa estranha, porque os dois homens falavam baixinho e gesticulavam muito.
**********
Aquela manhã estava movimentada. Gente andando depressa. Na esquina, havia um ajuntamento de pessoas, com roupas domingueiras. Homens de chapéus. Mulheres com luvas e chapéus.
Pedro, curioso, perguntou à sua mãe se era dia de ir à missa.
- Não, meu filho. Hoje não é Domingo, não. É dia de eleição.
- Eleição, mãe? O que é isso?
Dona Euletéria tentou explicar, a seu modo. O menino fez uma careta, como a dizer que nada tinha entendido.
Às 8:00 horas, chegaram os tios, todos enfatiotados. O mais velho, o tio Sinhô, que dona da casa chamava de Nhô, depois dos cumprimentos habituais, chamou Pedro, dizendo:
- Vem cá, menino. Assenta aqui no meu colo e conta uma coisa: - você já cagou hoje ?
Pedro vermelho de vergonha, respondeu encabulado: -
- Não, senhor...
O tio, com cara de riso, retrucou:
- Então vá cagar, seu porco...
Pedro queria morrer de raiva. Que velho mais besta, pensou. Por que ele não vai à merda? Só pensou...
O velho tio continuou:
- Você quer ganhar uns cobres?
- Quero, sim, senhor...
- Então, presta atenção: - você está vendo aquele livrão, ali, em cima da mesa?
Pedro reconheceu o livro que o empregado da fazenda tinha trazido dias atrás. Sacudiu a cabeça, em sinal afirmativo.
- Pois é... Você sabe escrever? Pedro balançou novamente a cabeça. Hoje de tarde, eu vou te chamar, continuou o tio, e vou mandar você escrever uns nomes, tá bem? Cada nome que você escrever, você ganha 200 réis... O menino assentiu com os olhos brilhantes.
À tardizinha, o tio Sinhô chamou Pedro e, abrindo o livro, mostrou uma linha e disse:
- Escreva ai: - Sebastião dos Santos. O menino com certa dificuldade, pois ele estava no 3º ano primário, desenhou o nome ditado, letra por letra, pelo tio...
Ao todo, Pedro “desenhou” 25 nomes. Ganhou 5 mil réis... Uma baita nota...
O livrão era o livro de registro de votação. Pedro tinha votado 25 vezes, aos 11 anos de idade...
Só muito mais tarde, ele soube disso. Eleições desonestas para eleger homens honestos... Era um bordão... Bons tempos... Bons tempos... Que saudade!...
********
As eleições gerais transcorreram em clima de tensão. João Pessoa, o candidato a vice-presidente da República, na chapa de Getúlio Vargas fora assassinado.
A apuração, voto contado à mão, um a um, foi demorada e, afinal, a chapa liderada pelo Presidente do Estado de São Paulo, o Dr. Júlio Prestes de Albuquerque foi declarada vencedora.
Os gaúchos, paranaenses, nordestinos e os mineiros não aceitaram a decisão das urnas, alegando fraude... Logo quem!... Sob essa sólida argumentação, arregimentaram as forças militares de seus respectivos Estados, partiram para o confronto armado: - era a Revolução!
PRP... AL... A sigla não importava. O que era importante era o Poder e ninguém gosta de perdê-lo, mesmo que fosse apenas uma expectativa...
Os soldados, peças de manobra dos poderosos de então, foram mandados para as trincheiras. A coisa pegou fogo. Os aliados (ou comparsas?!) de Getúlio Vargas, mais numerosos, iam sufocando as tropas legalistas.
Pedro, na limitação de sua idade, não alcançava bem a extensão do conflito. Ouvia falar de lutas nos limites do Estado de Minas com os do Estado de São Paulo... Mas não compreendia ainda o porquê dos acontecimentos. Como a cidadezinha onde morava ficava próxima ao Rio Grande, fronteira entre os dois Estados beligerantes, ele ouvia, ainda que abafado o som dos tiros trocados entre os combatentes. Um dia, ele escutou que os paulistas tinham atravessado o rio e haviam tomado a fazenda do Coronel Salgado. Foi um reboliço na cidade. Todo o mundo comentava o assunto. Deveria mesmo, pensava, ser uma coisa do outro mundo...
Seu Plínio tinha o hábito de, todos os sábados, à noite, levar a família ao único cinema que existia na cidade. E, lá iam todos para assistir ao filme em cartaz: - O Rei da Selva, versão primitiva dos filmes de Tarzan, mas, com as mesmas aventuras do menino que fora criado pelos macacos. Pedro, na sua maneira de entender, adorava aquelas peripécias da macaca Chita, principalmente.
Naquele sábado, a família do dentista ia, como de costume, ao cinema: - seu Plínio e Dona Euletéria, de braços dados, atrás e a meninada, na frente, correndo e fazendo aquela algazarra dos diabos... Quando passavam defronte à casa da Dona Luíza Ferreira, uma velha bisbilhoteira que policiava a vida de todo o mundo, a tal gritou histérica:
- Seu Plínio... Seu Plínio... Escute a última. E, sem esperar, sapecou: - Os mineiros reganharam a ponte!
Seu Plínio, que era um purista do vernáculo, logo compreendeu que a velha senhora queria dizer que “as tropas de Minas, em batalha, na fronteira de Minas com São Paulo, tinham RECONQUISTADO a ponte sobre o Rio Grande...
Fatos... Reminiscências...
A reconquista daquela importante ponte, que até hoje limita os Estados então beligerantes, foi logo anulada pelas tropas federais, pois logo se teve a notícia que os “paulistas” marchavam para a cidadezinha em que Pedro morava.
Foi um corre-corre danado! Era gente fugindo pra todos lados!...
O irmão-gêmeo de Dona Euletéria era, ao tempo, o Presidente da Câmara Municipal, cargo equivalente ao de Prefeito de hoje. Como era “coronel” da política e homem de forte prestígio, mandou logo um caminhão buscar a família da irmã para levá-la a refugiar-se na sua Fazenda, chamada de “Engenheiro Lisboa”, em homenagem um engenheiro da Cia. de Estadas de Ferro Mogyana que, em suas terras, tinha construído uma estação.
Foi uma “festa” só!... A dona Euletéria, com “seu” Plínio na boléia do caminhão que fedia prá danar, pois, tinha sido usado para transportar porcos e ainda não sido lavado, e a meninada toda, inclusive Pedro, na carroceria, fazendo uma bagunça dos diabos...
A chegada na Fazenda foi um acontecimento: - a parentada toda veio receber os refugiados: - a tia “Lúdica”, apelido de Dona Eliza, esposa do dono da Fazenda, o tio “Euripinho”, apelido carinhoso e familiar do Cel. Eurípedes França, convocou a criadagem toda, pois eles eram ricos e tinham muitos criados, para acomodar os “fujões” naquela casa enorme da propriedade.
A meninada ficou localizada num grande armazém, no qual se espalhou vários colchões no chão. Cada um tinha o seu. Pedro quis ficar perto do colchão da Dulce que era uma espécie de “cria” da D. Euletéria e que cuidava dos menores.
Além do mais, o menino gostava de dormir encostadinho na Dulce, pois que, ele sentia o calor dela, e percebia os seus peitinhos a lhe espetar, pois que, naquela idade, a sensualidade já começava a aflorar. Então, ele achava engraçado o seu pequeno pênis ficar duro e... Ia encostando cada vez mais na Dulce. Esta, por sua vez, já moça feita de seus 17 anos, também não estava “morta” e, sempre que isto acontecia, ela segurava o “pinto” do menino e começava a passá-lo nas suas partes pudendas, além de levar as mãos do menino para segurar os peitinhos já bem salientes e durinhos. Ah! Como Pedro se deliciava... Até que a empregadinha soltava um longo suspiro seguido de um estremeção e lhe dizia: - “Agora chega... Vamos dormir... ”Ah! Agora vamos dormir...” Ah! que coisa boa!... O menino, sem saber porque, continuava a segurar com u’a mão um dos peitinhos e, com a outra, procurava aquela parte cabeluda que a Dulce tinha entre as pernas e, coisa estranha, estava bem molhada... O seu “pintinho” ficava durinho e ele não conseguia mais dormir de bruços, como era seu costume. Que tempos! Que tempos!
A Revolução durou até quase o final do ano. As noitadas eram sempre as mesmas.
Pedro não queria outra vida! Numa noite, Dulce tomou a iniciativa de encostar no menino. Ele, desde logo notou que ela estava nua. Que sensação! Sem ser solicitado, ele foi logo segurando aqueles peitinhos durinhos Ai, ela falou: - “Vem mais pra perto... Põe a sua boca aqui, no meu peito e chupe um pouquinho, como se você estivesse mamando...” Pedro achou aquilo estranho, mas obedeceu... Que coisa gostosa! Chupou... Chupou... Muitas e muitas vezes... O seu “pinto” ficou duro feito pau... Dulce, então, carinhosa, afagou a cabeça do menino e... Devagarinho pegou o seu “pinto” e levou-o diretamente ao meio de suas pernas, naquele emaranhado de cabelos, onde Pedro percebeu que tinha uma espécie de rachadura toda molhada... Dulce colocou o “pinto” do menino para o meio daquela rachadura e disse baixinho: “agora, empurra esse pinto com força...” Pedro, sem entender bem a estória, obedeceu e, então notou que o seu “pinto” tinha entrado num buraco todo molhado... Dulce gemeu um pouquinho e disse: - “Vamos, menino, empurra mais com força que eu estou gostando... Ai, Pedro, que bom... Ai!... Eu vou gozar... Goza, também, menino... É gostoso, você vai ver...”
Pedro não gozou, mas achou bom pra danar e disse devagarinho: - “Que coisa boa! Amanhã eu quero mais.“ “Amanhã, não, disse a moça. Mais tarde, quando todo o mundo estiver dormindo, nós vamos fazer mais. Eu estou “louca” de vontade... Eu quero gozar mais. É muito gostoso!”
Naquela noite, Pedro quase não dormiu. Quase toda hora, Dulce queria que ele chupasse seus peitos e lhe enfiasse o “pinto” no buraco...
x.x.x.x.x..x.x.x.x.x.
Os tempos passaram.
Getúlio Vargas ganhara a Revolução e se tornara Presidente da República. Fez um “rebu” dos infernos no País: - destituiu os Presidentes dos Estados e nomeou Interventores. Para Minas, ele nomeou o Benedito Valadares.
Os seus tios, velhas “raposas” da política, de um arranjo aqui, outro acolá, foram se acomodando à nova situação... É sempre assim, como mais tarde, Pedro compreendeu.
A questão das dívidas dos seus tios, foi resolvida por um “arranjo” amigável com o Departamento Jurídico do Banco credor que, num “golpe” de mestre, vendeu as propriedades para seus filhos mais velhos, por um “precinho” de pai pra filho... É sempre assim!
x.x.x.x.x.x.x.x..x.x..
Só aos 13 anos que Pedro entendeu que tinha “comido” a empregada. Mas, não desistiu da tarefa. Toda a noite, depois que o pessoal da casa já dormira, ele ia devagarinho para a cama da Dulce e “mandava bala”. Nessa época, o seu pênis já era maior e mais grosso e ele começava a gozar. Dulce que era mulata e, com tal, muito fogosa, não rejeitava as “visitas” noturnas do seu “menino”. Numa noite, ela lhe disse: - “Pedro, agora nós precisamos parar... Você está ficando homem... O seu pau tá bem grande e grosso e você já está gozando... É muito perigoso...” “Como assim, perguntou” o rapazinho. “Olha, você pode me engravidar... Ai a “coisa” fica preta pra nós dois...”
Pedro quis reclamar, mas acabou aceitando a argumentação. Todavia, vez por outra, Dulce, às escondidas, sem que ninguém percebesse, falava baixinho pra Pedro: - “Hoje, eu ti espero... Não se esqueça... Estou “doida” de vontade...” Pedro não se furtava ao convite.
E assim foi até que apareceu um homem que se engraçou com a Dulce e com ela se casou. Nunca mais, Pedro se encontrou à noite com Dulce.
Xxxxxxx
Mas, voltemos, à “revolução”...
Pedro ouvia os mais velhos falarem dos acontecimentos. Um general nortista chegara à cidade para comandar os sediciosos: - era uma tal de general Rabelo ou Rebelo.
Era uma “festa” ... Os soldados “requisitando” alimentos, frangos, porcos, “o diabo a quatro” ... E ninguém pagava... Era uma beleza... Tudo em nome da “revolução”!
Os descontentes formaram uma espécie de “exército” formado de agregados rurais para combater os desmandos. Mas, as tropas do general eram melhor preparadas e puseram para correr os locais que, demandaram e ficaram conhecidos como os “quebra-mandiocas”, porque nas poucas refregas havidas, os inimigos do general fugiam desordenados pelos mandiocais existentes nas fazendas e iam se esconder da sanha dos militares nos grotões e nas grutas existentes em profusão nas zonas rurais.
Xxxxxx
Getúlio Vargas tomou posse do governo e exilou o antigo Presidente da República, o Dr. Washington Luiz, um velhinho de cavanhaque branco. O novo “dono” do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, estabeleceu uma ditadura, na qual só ele e sua família mandavam.
Antes de ir para o Rio de Janeiro, Getúlio, que era gaúcho, quis humilhar os paulistas, e, num arroubo de vencedor, montado a cavalo, entrou na cidade de São Paulo, com um lenço vermelho no pescoço, “apeou” de sua montaria em frente do Palácio do Governo paulista, e amarrou seu cavalo num poste defronte à sede da sede do Governo vencido. Coisas de gaúcho... Pura “gauchada”!...
Urbanus
*.*.*.*.
Comentário: Eis uns dos muitos causos de Urbanus! O velho Canôas, mescla nesse mini-conto, realidade e ficção. O que é realidade? O que é ficção? A história nos diz o que é ficção, e, se compararmos a estória, veremos que a ficção faz parte de tudo! O que não muda, nesse Brasil é a política sempre cheias de mumunhas!!!
Fernando Canôas