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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

BRINQUEDO QUEBRADO


Eu não sabia, na realidade, qual era o meu desejo. No meu íntimo, aquela sensação esquisita de insatisfação. Nada estava bom. Faltava-me alguma coisa que eu não sabia bem definir o que era.
Procurei a resposta no alimento: - não era exatamente o que eu queria. A bebida não me atraia. A leitura muito menos.
O quê seria?
O convívio com os familiares era-me muito agradável, mas, não preenchia ainda aquela ânsia interna,
A prece, a procura da afinidade com o outro Plano, dava-me um refrigério, no entanto, não chegava à plenitude do anseio.
As luzes, o brilho da cidade, o som das músicas e dos hinos, tão comuns na época do Natal, como que aumentavam aquele vazio que sentia em minha alma...
Recolhi-me no meu interior, buscando a resposta que o meu coração pedia...
Então, os pensamentos voaram. As folhas do calendário sobre a minha mesa foram virando pra trás... Para trás... Cada vez mais para trás...
Surgiu, então, na tela da minha retina, um menino meio-desengonçado, calças curtas, camisa para fora do cinto (cinto?! Teria ele mesmo um cinto ou seria apenas um cordão amarrado na cintura?); cabelos despenteados; nariz um tanto limpo e tanto sujo; olhos assustados...
Quem seria aquela criança?
Firmei o meu pensamento naquela figura. O filme da memória, retido há tanto tempo na câmara escura do meu inconsciente, revelou-me que o menino estava triste, porque no chão, a seus pés, estava um brinquedo quebrado... Era uma piorra, uma espécie de pião musical, que ele havia recebido como presente de Natal. A quebra do brinquedo era a desilusão de um sonho mal começado... Era a sua primeira desilusão!...
Procurei outros detalhes do menino: - outros traços fisionômicos. Quem seria ele?
As cores do passado, as formas, a paisagem... Então – ó Deus! – reconheci-me na desilusão do menino! Era a minha própria imagem que, há tantos anos, chorou pelo seu brinquedo quebrado!...

Urbano França Canôas

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